sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Dia 17/12/2010 - Entramos fundo na Argentina! (mas tivemos que passar pelo "Infierno").

Talvez o título mais apropriado seria: "O mais longo dos dias".

Demoramos um pouco para sair de Posadas, porém aprendemos a confiar no GPS, a indicação estava certa apesar de eu duvidar. Posadas não é pequena, aí inclui-se sua periferia. Pegamos novamente a Ruta 12, era uma bela manhã de sol.

Começaram as infinitas e belas retas, tudo ótimo para andar de moto. Passamos por um grupo de umas seis motos que vinham no sentido oposto, nos cumprimentamos mutuamente.





Os quilômetros passaram rápidos neste trecho, fizemos duas paradas, uma após o pedágio e outra em um lugar agradável com sombra sob as árvores. Um cachorrinho safado veio ao meu encontro, fez a maior festa no meu colo, mas quando o André pegou a máquina para fotografar, ele pulou e saiu correndo.




Tentei negociar os direitos de imagem, mas ele não quis...
Mais adiante, fomos parados pela primeira vez pela "Gendarmeria", três soldados fardados de verde, um deles veio conversar, aquele papo, de onde vem para onde vão etc, blá blá blá...
Ele percebeu a câmera filmadora no guidão da moto em posição "record" e quando eu pensei que ele iria pedir os documentos, nos mandou seguir.  Agradecemos com um sorriso, quase perdemos uns "pesos" ali pensei.



Em Resistência acaba a Ruta 12, na rotatória Virgem de Itati, pega-se à direita a Av. Independência que depois vira George Ferré, são várias pistas que viram uma só no pé da Ponte General Belgrano, a ponte sobre o Rio Paraná que liga Resistência a Corrientes. Devido a isto, o trânsito no local pára, nem de moto dá pra passar, tivemos que ter muita paciência. A ponte é magnifica, seu vão central é muito alto, isto para que os navios de grande porte possam passar sob a mesma.







Esta foto não é minha, mas ilustra a beleza da ponte

Descendo a ponte e já estamos na Ruta 16, que é pista dupla até a rotatória com a Ruta 11, dali em diante serão muitos, muitos km de pista simples cruzando o Chaco. Por sorte, a pista passa ao largo da cidade de Corrientes, não sendo necessário entrar na cidade.

Logo após passarmos a ponte e já na ruta 16, pista simples, paramos para abastecer (posto Pedro Itati), ali comemos um sanduíche de salame y queso (que delicia) repetimos. Isto eram por volta de 13:00 h local.

Voltamos à ruta, o calor era intenso, resolvemos dar uma "esticada" e só fomos parar novamente após 150 km em Quitilipi, onde tirei a foto da "moto do Capeta".


A moto do Capeta no Pampa del Infierno !

Pra quem já tá no Infierno, preocupar-se mais com quê ?

Estávamos derretendo, uma sombra e água era tudo que se precisava.  Não tem jeito, voltamos à ruta. Passamos batidos por Roque Saenz Peña, a cidade planejada para a primeira noite na Argentina e que foi substituída por Posadas...

Rodamos mais 100 km e paramos em "Pampa del Infierno", mais água!
Aqui cometemos um erro estratégico, como tínhamos rodado só 100 km, não abastecemos novamente.
Tomamos muita água e folego para tirarmos a foto ao lado da placa sob o sol.

Lembramos da água, esquecemos da gasolina...


42 graus à sombra, no asfalto quase uns 50 !

Passamos por um posto da polícia, onde alguém lá dentro fez menção de sair para vir nos parar, tarde demais, quando ele viu, já tínhamos passado. Eu falei para o André, se tiver algum posto à frente ele vai avisar pelo rádio. Dito e feito, uns 30 km adiante outro posto, os dois policiais já meio que nos esperando sabe.

Um dos policiais me parou no meio da estrada, eu lhe disse que iria estacionar no acostamento
pois estava no meio da estrada, ele me disse pra ficar ali mesmo. Ótimo! Sob aquele sol, ele pediu
os documentos enquanto dava a volta na moto. Lhe apresentei tudo, as mesmas perguntas, de onde vem pra onde vão etc.  Aí ele me disse, "está mucho calor, que tal una cerveza?" quase respondi "aceito!" ao invés disto peguei 20 pesos e lhe dei, ele pegou tentando disfarçar, pois bem nesta hora um carrão preto vindo em sentido contrário, parou ao nosso lado e ficou olhando as motos. O policial disse a ele "siga" olhou pra mim e disse "buen viaje!", agradeci e sai.

Quando o André emparelhou ao meu lado na estrada, eu disse que tinha dado 20 pesos e ele me
disse, dei 5.   PQP! Bem, estamos rodando e é o que importa.

Aí o odômetro começou a acumular quilômetros sem que aparecesse algum posto de gasolina, este foi um longo trecho desolado. A tarde caía e nós ficamos muito preocupados, meu odômetro já tinha virado 295 km quando, em Monte Quemado, vimos um posto, quer dizer quase isto. Uma bomba de gasolina ao sol com um único funcionário tentando atender a uma enorme fila de ciclomotores e pequenas motos. O André me falou que viu outro posto logo adiante no outro lado da estrada, fomos até lá só para descobrir que só havia gasolina naquela bomba da fila...
Voltamos e sem coragem, paramos na única sombra que encontramos e ficamos olhando aquela confusão, gente chegando com galões e garrafas, mal sinal!  Somente depois de uma meia hora é que finalmente tomamos coragem e entramos na fila. Nesta brincadeira toda, perdemos mais de uma hora.


Eles ainda tem esperanças !

A noite caiu e por isto após 135 km paramos em El Quebrachal, abastecemos e ficamos sentados atrás do posto recobrando os sentidos, tínhamos que decidir o que fazer.


Dois cachorros perdidos na noite do Chaco !

Antes disto, lá em Monte Quemado, o André descobriu que sua moto estava perdendo óleo pela tampa superior do cabeçote, por isto sua calça aparece toda suja na foto. Porém, aqui pudemos confirmar que a perda não era significativa para o motor, apenas para sua bota e calça, contudo ele meteu óleo na Suzi.
O André estava com uma aparência desoladora, nisto o Taz lhe envia um SMS, avisando que havia problemas de abastecimento de gasolina no norte da Argentina. Bem, pelo menos agora estamos com os tanques cheios e dá pra chegar à Salta, o problema é se nós conseguimos ou não, pois são mais 250 km pelo menos!
Enquanto pensávamos, um sapo destemido fazia a festa com os insetos, ele até tentou experimentar o André, verdade! Ele deu umas duas linguadas na perna dele, que no estado que estava, nem percebeu.
Mas ele não gostou do André...


Nem precisa falar, a imagem explica tudo, derretido pelo calor do Chaco

O Sapo guloso e destemido

Forças recobradas, ou quase, decidimos que seguiríamos até Salta, mesmo rodando à noite, regra
quebrada, afinal a estrada estava muito boa e a noite clara com um belo luar.
Isto eram por volta das 21:30 h. O André deixou os óculos em cima do baú da moto e saiu...  Nunca mais os viu.

Parece piada, mas rodamos no máximo uns 20 km e a estrada ficou ruim, sem sinalização e acostamento, além dos buracos. Se for assim, teremos que parar em algum lugar. Felizmente, após mais uns 20 ou 30 km, a estrada ficou boa de novo.
Começamos a visualizar sombras de montanhas no horizonte, será que são os Andes?
Parece bobeira, mas isto virou um incentivo para nós que íamos falando sem parar, aqueles lá à direita acho que não, mas aqueles à esquerda parecem ser altos, acho que sim.
Me lembro de termos parado em um lugar à beira da estrada, ficamos ali olhando a lua e o céu cheio de estrelas, havia uma estrada de terra que sumia em meio a uma vegetação alta.
Eu disse para o André, apesar de não vermos ninguém, eu estou escutando vozes, se são deste
plano ou do além não importa, melhor seguirmos.

Passamos pela entrada de El Galpón e perdido no meio do nada havia um posto, apesar de termos autonomia para o destino resolvemos não brincar, abastecemos. Uma menina de pele bem morena
muito atenciosa, completou nossos tanques.  Havia também uma lanchonete, entramos para tomar um café, precisávamos espantar o sono, eram 23:30 h. O André pediu um lanche,  queso y salame, o que a atendente muito bonita e bem vestida, mas meio desconfiada, disse não ter. Não me lembro o que  comemos, mas me lembro que havia uma TV, onde passava um programa de celebridades "afetadas" (umas loiras peitudas e um cara de terno branco, meio estilo cafetão).  TV é tudo igual, alguns sujeitos perdidos ali prestavam muita atenção.

O GPS indicava o fim da Ruta 16 e após 30 km tivemos um surpresa, a Ruta 16 acabou perpendicular à Ruta 09, que é larga e muito bem sinalizada. Mal entramos na mesma e começaram a passar carros voando, esta sim é uma verdadeira Autobahn Argentina!

Paramos no acostamento em uma subida no meio do nada, só pra registrar o luar, um sol da meia-noite!

Luar na madrugada da Ruta 09.
Paramos mais adiante no pedágio (motos não pagam) pois o André estava visivelmente mal.  Apesar de faltar pouco, parece que não chegávamos nunca. Eu, apesar de cansado, tinha ainda uns restos de forças, mas disse para o André, vamos, pois se eu ficar parado aqui mais um pouco eu despenco das pernas.

Quando finalmente chegamos à rotatória de Salta, descobrimos que ainda faltavam 45 km!

A ligação entre a RN09 e Salta é feita pela Auxiliar Guemes-Salta, uma estrada com uma serrinha.
Foi aí que eu comecei, pelo Scala Rider, a contar aquela história do Lancastrian que bateu numa geleira na década de 50 e seus destroços apareceram só em 2000, por isto descobriu-se que as geleiras "escorrem" ao longo dos anos...   O André mal respondia, fiquei na dúvida se eu falando lhe dava mais sono ou o mantinha ele acordado.

Entramos em Salta e muitos carros e motos passavam por nós, pessoal curtindo a night.
Acabamos em uma avenida de duas pistas e iluminada, paramos e vimos um pequeno Hotel.
Fizemos o retorno e ao pararmos na frente do hotel, um senhor muito gentil veio até a calçada falar conosco. Ele nos informou que o hotel não tinha estacionamento, quando dissemos que não nos serviria, ele negociou dizendo, olhem, anexo ao hotel há uma garagem que é utilizada durante o dia, vocês podem deixar as motos agora, só precisam tirar amanhã de manhã. Fechado!  Isto eram 02:00 h.

Os anjos da guarda estavam de plantão, foi a melhor opção mesmo, este hotelzinho é muito bom.

Rodamos neste dia 1150 km em aprox. 18 horas.   Posadas Arg -> Salta Arg.

Hotel Petit .
Av Hipólito Irigoyen, 225 - Salta - Argentina.

2 comentários:

  1. Ronaldão, a historia era boa, mas o sono quase me apagou naquela madrugada!!!!

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  2. André,

    Ainda bem que funcionou, pra você e pra mim !

    Estávamos caindo pelas tabelas...

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