quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Dia 06/01/2011 - Entramos no Brasil, mas não saímos da Bolívia (um dia entre Corumbá e Puerto Quijarro).

No planejamento original da viagem, este seria o dia em que deixaríamos Corumbá, e seguiríamos rumo a Campo Grande, distante 450 km.

Como na noite anterior a imigração boliviana estava fechada, decidimos resolver isto logo pela manhã e, após o almoço, seguirmos para Campo Grande. Podíamos ter ido embora sem realizar os trâmites de saída da Bolívia, mas tínhamos feito tudo certinho até aqui, e também não queríamos ter problemas em uma possível nova viagem através deste país.

Como nos informaram que a imigração lá reabriria às 08:00 h, tomamos café com calma, de fato neste hotel nos sentíamos em casa. Obviamente que não montamos as bagagens nas motos, pois se não nos revistaram ontem, não será hoje que vamos dar moleza.

Na nossa planilha de viagem tínhamos que trocar o óleo das motos em Corumbá, por isto no caminho para a fronteira começamos a procurar óleo. Como não achamos, fomos em frente e quando chegamos na aduana / imigração bolivianas, estava tudo lotado.

Estacionamos as motos como se estivéssemos vindo de dentro da Bolívia, não foi intencional, apenas era a opção que tínhamos. Quando íamos cruzar a pista para entrar no prédio da aduana, quem para na nossa frente?  A Hilux que estava lá no estacionamento do hotel Suiza em Santa Cruz, novamente o motorista parou sorrindo e nos cumprimentou, perguntei a ele como tinha sido a viagem, e disse que ele tinha passado exatamente pelo que passamos, o trecho de terra, depois 1 hora e meia na fila do combustível em Roboré etc. Mas tinha vindo bem, tinha chegado por volta das 17:30 h (um pouco antes da gente) mas a imigração boliviana estava fechada, então como nós, tinha voltado para fazer a saída oficial. Nos despedimos e, novamente nos desejamos sorte mutuamente.


Puerto Quijarro, vista da imigração boliviana

Fomos lá na aduana, que é uma pequena sala em um prédio térreo comprido, lá havia um guarda do lado de fora, mas mesmo assim, não demos bobeira com os capacetes e documentos, enquanto um fazia os trâmites o outro esperava do lado de fora. Foi simples a saída, logo a moça que nos atendeu fez a liberação das motos, não sem antes claro, termos de tirar uma fotocópia dos documentos, daí carimbou e nos liberou.

Na volta desta sala, vimos estacionadas ao lado das nossas, duas outras motos, uma XRE-300 e uma Falcon. Os pilotos dois brasileiros, jovens mesmo, estavam vindo de Vitória e iriam fazer mais ou menos o nosso percurso que nós, porém no sentido inverso. O piloto da Falcon já tinha experiência com Argentina e Uruguai, o outro que era seu irmão, e estava com cara de apreensivo.
Lhes informamos sobre o combustível, que só encontrariam em Roboré etc. Eles tinham na bagagem um galão cada um, lhes recomendamos encher até a boca. Eles nos deram adesivos da "expedição" deles, como nós não tínhamos feito para a nossa, ficamos lhes devendo. Eles disseram que iriam, lá no Orkut, atualizar os dados da viagem em uma comunidade, lhes desejamos boa sorte.

Faltava agora a imigração, aí a coisa foi complicada, era uma sala bem no meio das pistas de entrada e saída do país. Estava lotada de gente, não havia fila e era uma balburdia, ficamos meio perdidos entre duas mesas sem saber em qual nos atenderiam, até que um rapaz chamou todo mundo para a mesa próxima à porta. Houve uma tentativa de formar-se uma fila, mas logo os espertinhos, estrangeiros, e não os bolivianos diga-se de passagem, promoveram a bagunça novamente.

No meio daquela confusão, de repente, ouvimos um estrondo enorme, som de pneus arrastando e metal sendo esmagado, era como se um caminhão tivesse engavetado vários carros. Na hora lembramos, as motos!  Elas estavam estacionadas entre as pistas e em um lugar vulnerável. O André que estava mais próximo da porta, me fez sinal e foi correndo lá fora ver o que tinha acontecido.
Depois de alguns angustiantes minutos ele voltou e disse que as motos estavam intactas, o problema era outro. De fato foi um caminhão, porém, este ao passar pelo prédio da imigração, enroscou a carga em um corrimão na parte superior do prédio e saiu arrastando tudo.  Menos mal, diante do susto, aquela bagunça para carimbar o passaporte virou fichinha.

Finalmente conseguimos o carimbo de saída nos nossos passaportes, estamos oficialmente fora da Bolívia, porém perguntamos se mesmo assim poderíamos ir até a zona franca em Puerto Quijarro, nos disseram que sim. Claro quem sim!  Se é para deixar dinheiro na Bolívia, por que não?

Quando fomos pegar as motos pudemos ver os estragos, era uma carreta do Brasil, puxada por um velho Volvo NH, a carga era um pulverizador da Jacto (lá de Pompeia interior de SP). Um dos braços do pulverizador havia se soltado e estava um pouco para fora da carroceria, quando o motorista passou sob a apertada cobertura, o braço enroscou no corrimão da sala superior do prédio, arrancou o corrimão e fez entrar tudo pela janela de vidro. Sorte não haver ninguém alí no passadiço no momento do incidente.

Isto foi na pista de entrada, mas como já estávamos dentro da Bolívia, seguimos a avenida e à poucos metros já viramos à direita como nos haviam indicado. Pegamos uma avenida de duas pistas, logo no início há um comércio e daí vimos uma loja de peças de motos. Fomos lá, pois o André queria ver o preço dos pneus, foi aí que eu vi o óleo Motul 3000 que eu uso na Suzi. Eu acahava que só iria encontrar no Brasil, mas melhor que isto foi o preço, paguei 45 bolivianos em três litros, o que dá aproximadamente uns 15 reais nos três, no Brasil são 18 reais por litro! O André desistiu de trocar os pneus, apesar dos preços atrativos.

Seguimos em frente e passamos pela estação ferroviária, a primeira estação do Trem de La Muerte (na realidade se chama Expresso Oriental). Já neste trecho, a avenida tem mais terra que asfalto, chegamos ao freeshop da zona franca.  Estacionamos as motos sob a sombra de uma árvore e fomos às compras. Eu não tinha pretensões, já o André, sabe, adora umas compras, mas no final das contas eu acabei comprando mais do que eu podia carregar!  Cremes para dar de presente, um barbeador novo e até uma Dremel edição de aniversário. Entre o freeshop (Shopping China) e a Miami House, queimamos todos os bolivianos que nos restavam e mais uns reais no cartão de crédito.


Pátio de manobras do Expresso Oriental (Trem da Morte)

Estação Ferroviária de Puerto Quijarro
Nossa preocupação era com a cota na Receita Federal brasileira, partimos dali com os baús cheios e mais umas sacolas penduradas.
Na imigração boliviana, passamos direto, cheios de sacolas e vindo de dentro da Bolívia, para eles está ótimo.
Quando chegamos na Receita Federal brasileira eu ví o fiscal à direita, daí joguei todas as sacolas para o lado esquerdo de forma que ele não viu, daí que nem nos parou, passamos direto. Puxa! Dava para ter trazido a Bolívia inteira na bagagem!


Receita federal brasileira, passamos batido cheios de sacolas

Aliviados, seguimos de volta para o hotel, o problema agora, pelo menos para mim, era conseguir arrumar a bagagem. Tínhamos ainda que trocar o óleo das motos, que estavam cheias de barro. O calor de Corumbá é absurdo, como havíamos perdido muito tempo entre a imigração e as compras, resolvemos almoçar.
O André sugeriu uma churrascaria, e claro, achamos uma fácil.

Claro que depois de uma churrascaria em uma dia com um sol de uns 40 graus, deu uma moleza daquelas, mais tínhamos que fazer a manutenção "preventiva" nas motos.
No estacionamento do hotel havia uma cobertura, nós posicionamos as motos lá e fomos à rotina de trocar o óleo (tínhamos trocado em Cuzco no Peru), limpar a corrente e o filtro de ar. O Sol era implacável, daí que deixamos os filtros ao sol por dez minutos e já estavam secos. Qualquer peça metálica que ficasse ao sol não podia ser tocada de tão quente que ficava.

Porém, mesmo depois da manutenção, as motos ainda estavam entupidas de barro seco e poeira.
Quase em frente ao hotel há um lava-rápido, fomos lá ver quanto era para lavar as motos, porém a minha exigência era que eu mesmo lavasse. Já tive uma má experiência com a Suzi em lava-rápidos, além de derrubá-la, quase destruíram o radiador de óleo com o jato de alta pressão. O proprietário insistia que ele lavaria, mai não dava o preço, aí quis ir ver as motos. Levamos as motos até lá e pegamos a mangueira, na realidade só jogamos água para arrancar o barro, não foi uma lavagem completa, mesmo assim ele cobrou 20 reais!

Havia lá dois sujeitos sentados tomando cerveja, um deles falador, não me lembro porque, disse que o mundo estava perdido por causa dos três. Eu perguntei quem?   Ele respondeu rindo com ar de quem estava falando a maior verdade, o negro lá em cima, a mulherzinha aqui e o índio no paizinho aqui do lado!
O André olhou pra mim, esperando a minha reação. Claro que meu estomago embrulhou, pensei por um minuto, mas resolvi, acho que pelo cansaço, deixar para lá. Não disse nada, porém mais tarde me arrependi, devia ter ido pra cima daquele idiota como um rolo compressor. Dei lhe as costas e fui cuidar da moto.
Mas o cretino continuava a falar, até que falou  umas besteiras sobre crise financeira.
Eu não sou economista, mas procuro me manter informado, pois gosto de história, politica e geografia (três coisas que caminham juntas). Despejei em cima daquele sujeito um caminhão, no final ele me disse, com os olhos arregalados, nossa eu não sabia!

Eu não disse mais nada, mas devia ter-lhe dito que um dos meus avôs era mulato, uma das minhas avós era índia e que eu não tenho nada contra mulheres no poder...  Desde que não seja minha chefe!  Brincadeira, eu já tive chefe mulher, para mim não faz diferença, desde que entenda do assunto.

Saímos dalí e paramos na parte coberta do estacionamento, um enorme galpão, daí como já eram umas 14:00 h, não tivemos coragem de montar tudo nas motos e partir para Campo Grande. Na realidade, mesmo que quiséssemos, não conseguiríamos, pois tínhamos que ajeitar as compras na bagagem.
Pensamos bastante, então decidimos mudar os planos, no dia seguinte passaríamos direto por Campo Grande e iriamos dormir em algum lugar já em SP, assim iriamos recuperar o tempo e por outro lado, meio dia de viagem não era muito, afinal não fosse a imigração boliviana, teríamos só dormido em Corumbá e já estaríamos em Campo Grande.
O André estava bastante preocupado com a mudança de casa que iria realizar, daí que a partir de agora ele precisava voltar logo.

Não dava para ficar ao sol cinco minutos, nos fundos do hotel há uma boa piscina, acabamos indo para lá, depois de uns mergulhos ficamos à sombra conversando, isto por muito tempo.  Como o tema era uma das minhas paixões, aviação, não ví o tempo passar.

Lembrei-me que não havíamos lubrificado as correntes das motos após a lavagem, então eu disse para o André, deixe que eu vou lá e lubrifico as duas. Peguei o macaco portátil e o spray.  Levantei a Suzi e rapidamente lubrifiquei a corrente, quando fui fazer o mesmo na do André, tive que colocar o macaco na posição máxima, pois a moto dele está com a suspensão mais alta. Quando fiz o movimento da alavanca o macaco escapou da balança da moto e golpeou meu dedo médio da mão direita. Arrancou uma tampa bem na junta média e aí jorrou uma sangueira danada. O Chão ficou com várias poças de sangue, pois eu tratei de levantar a moto novamente e lubrificar a corrente, só depois é eu tratei de segurar o dedo para estancar, o que demorou um pouco. Um acidente tolo, mas tudo bem, só que depois não me atrevi mais a pular na piscina, pois o dedo ardia bastante.
Fiquei com uma cicatriz de lembrança da viagem...

Logo que o sol baixou fomos procurar o que comer, saímos caminhando e passamos pela praça central, lá há um enorme rolo compressor à vapor, uma máquina e tanto. Como não encontramos nada mais atraente, acabamos comendo um lanche em uma padaria, cuja dona estava mais interessada em assistir a novela do que atender os clientes.


Rolo compressor à vapor, na praça central de Corumbá

Saímos dali e fomos parar na orla do Rio Paraguai, lamentamos não termos ido lá de dia, parece ser muito bonito, há grandes barcos e algumas embarcações da marinha.

Voltamos para o hotel onde eu comecei a árdua e quase infinita tarefa de arrumar minha bagagem, pois eu não havia previsto "compras" no trajeto, como elas aconteceram desde o Peru, as coisas se complicaram.
Fomos dormir tarde, por conta do calor e da minha dificuldade com a bagagem, arrumei, mas não poderia mais tirar nada dos alforges até chegar em casa!

Vejam só que sorte, vimos na TV que caiu um temporal em Campo Grande na tarde daquele dia, houve inundações e algumas ruas viraram rios no centro da cidade.
Agradecemos por não estarmos lá naquele dia!

Mais uma noite no Hotel Águas do Pantanal.
Rodamos no máximo uns 30 km para irmos à imigração e as compras na Bolívia.

2 comentários:

  1. Sr. Ronaldo demorou mas escreveu né??? eheheheh Grande Abrax!!!

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  2. Adriano,

    É a correria do dia a dia, porém mais uma postagem e acabará. Temos de pensar em outra !

    E vc ? deve estar passando por aqueles dias de expectativa imensa né ?

    Também, ir para o Alasca sózinho é para os experientes como vc e o Marcelo.
    Estamos aguardando o início da sua grande (grande mesmo né) viagem.

    abraço

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